terça-feira, 16 de abril de 2013

Simples assim


Mesmo quando eu passo o dia sorrindo, com a máscara presa e travada, ainda é inevitável a depressão que cai à noite. Nada é tão forte que eu consiga manter para sempre, nada que seja uma máscara pelo menos.
A sensação de não pertencer a nada, de não estar perto o suficiente de ninguém é esmagadora, é impossível controlar os soluços que pulam no peito.
As coisas poderiam ser mais simples. No meio disso tudo, eu fico só no nada, é impossível resistir a sensação de desespero que transborda como as lágrimas dos olhos.
Respirar fundo já não tem o mesmo efeito de antes. Antes, era só olhar para o céu, ver as estrelas, a lua ou o azul intenso durante um dia de sol, ou uma tarde laranja, as nuvens cor-de-rosa cuidadosamente perfeitas no crepúsculo, ou talvez o vento brincando com as árvores e tocando de leve meu rosto. O cheiro de água ou cheiro que água e terra tem depois de um dia quente. Sentir os pés no chão. Poder andar sem compromisso, sem ter rumo certo, sem precisar de nada, fazer só pela sensação que dá.
Sentir, eis algo que eu não sei o que é há tempos. Algo tão estranho, tão subdividido. Quando se sente o fogo entre os dedos, não é como se sente quando alguém segura sua mão. Quando o fogo encosta-se a meus dedos nota-se, instantaneamente, que é ruim e que faz mal, porém quando outro alguém entrelaça seus dedos nos meus, uma confusão mental começa, bom, ruim, bom. Ruim? Bom. Bom? Ruim.
E antes que eu possa ter a resposta enlouqueço e sucumbo a vontade esmagadora de não querer saber mais. A vontade de que o melhor mesmo, é não sentir. Pois assim, não teria mais dúvidas, sem perguntas e simples assim, eu fico bem. E mas máscaras são sustentadas novamente.
Pois sentir dá trabalho, e pensar não é mais opção, pois pensar não é algo que se possa fazer quando se sente, não é algo que ajude a definir muita coisa. Sentir é irracional. Como alguém pode fazer seu coração bater mais forte? Um arrepio subir sua espinha? Como o saber que alguém esta bem te deixa bem e “feliz”. Se é que isso existe.
Sentir é tão surreal. E ainda mais. Intolerável. Como sentir? Não posso, porque não tenho motivos para isso. Simplesmente isso.
E mesmo assim eu sinto, pois não tenho motivos para não sentir.
Valéria Brum
Uma Futura Escritora

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