Antes e Depois

Antes sempre queríamos o depois. Depois sempre queríamos o antes. Nunca está bom assim. Nada está certo.
Agora eu olho para o Antes. Se eu pudesse, pararia nossas vidas nesta palavra. Antes. E acho que pelo menos a minha eu prendi.
Hoje não estou melhor do que ontem.
Acho que o que eles disseram é mentira.
O tempo não cura. Não tudo. E as vezes piora.
Hoje eu sou obrigada a ver todos andando em frente. Enquanto isso eu me recuso a tirar os pés do antes. Mas estão me obrigando. Seria melhor dizer que eles estão me forçando a descer. Mas não.
Me arrastando, me puxando e me empurrando. Para frente.
Eu juro que não queria. Mas não é simples.
É como se o peso do mundo estivesse amarrado com as cordas do tempo e os cadeados do Antes aos meus pés.
Sei que parece contraditório. Mas eu gostaria muito de descobrir o depois.
Antes do Antes, eu sonhava com o Depois. Vivia pensando em como seria bom um dia descobrir que valeu a pena.
E realmente vale. Vale muito mais do que um dia eu possa pagar.
Antes não pode dar o certo valor a grandes coisas. Pensava somente nos detalhes, de como tudo aquilo era tão imperfeito.
Depois me prendia a cada mínimo detalhe, não querendo deixar nada escapar. Mesmo sendo no Depois, tudo a mais é um bônus. Faz tempo que vejo a Antes no horizonte. Só esperando o momento que em um piscar de olhos ele desaparecerá.
Mas eu estou feliz. De certo modo. Em uma pequena parte de mim. Pois meu Antes no horizonte está desaparecendo para ir para um lugar melhor, o Depois.
E a única coisa que eu posso fazer, é tentar aplacar o egoísmo com essa alegria. Mas como eu disse, simples não é.
E o que me dá raiva é a minha capacidade de não ter raiva. Pois Antes, eu dei tudo por você, pensando que um dia faria diferença.
Na verdade fez.
Tanto que hoje ele está no horizonte.
Cada gota de energia eu dei para que o Antes saísse perfeito. Agora ele está longe o suficiente para não ouvir meus gritos de medo. Minhas súplicas para que não me deixe aqui. Só. E no escuro do passado. E isso não me faz feliz. Mas basta. Para sobreviver.
Antes, você era o que me fazia feliz. Todas as vezes que me procurava, me fazia sentir alguém Antes, quando eu te guardava seguro, não deixando nada acontecer, me sentia segura.
Quando tirava sorrisos de você, até mesmo quando eu chorava por dentro, Antes, eu me fazia feliz.
Antes, simplesmente hoje sem você.Me sinto de olhos fechados me perguntando até que horas terei que gritar para a noite: E agora?
E apesar de saber que se eu nunca tivesse passado pelo meu Antes, eu hoje estaria bem, no Depois, eu não me arrependo.
Estou de olhos fechados, na água, no escuro, o frio que mói meus ossos, não me importa mais.
Estou dando adeus. Mesmo agora que você não está mais no horizonte.
Valéria Brum
Uma Futura Escritora